quinta-feira, junho 10, 2010

É só amor.

Todo dia dos namorados a cidade fica cheia de coraçõezinhos, há batom nas vitrines estampando “eu te amo”, os restaurantes lotam e os motéis ganham filas.

Todo dia dos namorados, os caixas fazem hora-extra, as embalagens chiam celofanes mundo afora, milhões de cartõezinhos são manufaturados de livre e espontânea vontade e sem vontade nenhuma também.
Todo dia dos namorados, as moças rezam pelo inusitado, os rapazes penam ou apelam à maternidade. Minha mãe uma vez comprou dois conjuntos de lingerie iguais, apenas trocava a cor, para as duas namoradas do meu irmão. A ilusão de uma data romântica e infalível, pra mim, durou menos que Papai Noel.
               Mas essa semana eu vi uma novidade: uma grande rede de lojas se fazendo de alcoviteira e criando agência de namoro na internet. Assustadora estratégia de vendas: se quiser se curar da solteirice, eu arranjo alguém pra você comprar presente.
Não basta a gravação no estacionamento do shopping, os comerciais de rádio e TV esmagadores, os lembretes onde quer que ande? Tudo empurrando a individualidade para o espaço. Se é solteiro, logo, é encalhado. Tem alguma coisa errada com você.
Me pus a pensar sobre o preconceito e a confusão entre solidão e estar solteiro. Solidão é sofrer ausência. Estar solteiro é gozar das possibilidades.
Há muitos anos provaram que o segredo está nos olhos. Talvez a dificuldade de quem sente solidão seja se posicionar como um derrotado. Quantos namoros surgem na véspera da data por absoluta carência? Ser solteiro não é não estar casado. Veja só.
               As prostitutas parisienses usavam um colírio à base de Beladona e antes disso, mulheres aplicavam extrato de atropa nos olhos. Isso para dilatar as pupilas e imitar o desejo. Desejar nos torna mais belos. Dizemos que sim, queremos alguém, com o olhar. E o parceiro pressente essa abertura.
O Dia dos Namorados é o colírio em nossos olhos. Fantasiamos um querer imenso, de tirar o ar, próprio da paixão e, por isso mesmo, absolutamente incontrolável: ele é que se impõe sobre a gente.
Querer e não querer são ciclos tão naturais quanto as estações do ano. Ao que o próprio corpo determina, não cabe crítica. Solidão é a arrogância de julgar que não está na hora do inverno. Quer reclamar? Escreve pro SAC do @ocriador. Ao menos será divertido.
                 Quem está sozinho, que se ame ainda mais. Tenha paciência com as pupilas, procure o sentido da pausa, perca o medo do egoísmo e aproveite para criar o hábito.

Crônica de Cínthya Verri

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